Campanha de prevenção ao suicídio voltada a profissionais e estudantes da saúde, professores e familiares

Fotos:  Alberto Erich Okada

Minuta de Contrato de Vida

 

Sugestões reflexivas humanizadas a serem compromissadas em prol da manutenção da saúde e pela vida

1. Em uma situação difícil  fora da minha zona de conforto, comprometo-me a refletir que é preciso vivenciar novas experiências e aprender com os erros, com objetivo de crescer em meu processo de desenvolvimento.

2. Considero extremamente rígido de minha parte exigir que a razão controle as minhas emoções. Por exemplo, da razão querer assumir o papel de ter que aceitar ou rejeitar que as emoções possam vir a manifestar-se. Ainda que a minha consciência como um todo possa a exercer de forma equilibrada a sua função de autocontrole, comprometo-me a refletir sempre que a minha razão tentar classificar as emoções como sendo boas ou más, positivas ou negativas com a finalidade de cercear ou não a sua manifestação. Comprometo-me a refletir sobre a importância de a energia psíquica movimentar-se de forma pendular alterando sua direção para emoções de polaridade oposta.

3. Compreendo que as emoções difíceis fazem partes da minha vida. Considero-me no direito de sentir fortes emoções. Comprometo-me a ficar atendo quanto à necessidade de alocar a energia em seu fluxo natural, de forma equilibrada, em polaridades distintas relacionadas ao meu estado de humor, procurando respeitar a minha individualidade e a dos outros.

4. Considero extremamente rígido de minha parte exigir que eu deva estar sempre feliz, alegre, bem-humorado e focado somente naquilo que a minha razão vier a especificar. Comprometo a não me julgar por demonstrar aos outros, sentimentos incompatíveis com aqueles que vivencio na realidade, como uma falsa positividade, entretanto, comprometo-me a evitar a falsa positividade para ser o que sou, transparecendo a minha autenticidade.

5. Comprometo-me a acionar a força do perdão para mim e aos outros, sempre ao perceber que as minhas emoções trouxeram afetos indesejáveis, ocasionando conflitos em minhas relações intrapessoais ou interpessoais, devido a sua natureza e intensidade.  Comprometo ficar atento a força da compaixão que há dentro de mim, de sentir com os outros a sua dor como a minha dor, de sentir a sua alegria como a minha alegria e de perceber que sou parte da natureza e ela é parte de mim.

6. Comprometo-me que irei permitir que as emoções comuns e normais, intrínsecas a todos os seres humanos, a agirem cada vez mais livres. Tenho consciência de que dependo de todas as emoções de polaridades distintas para colocar em prática as minhas forças de caráter nas relações com os outros e com o mundo, como ele é ou me apresenta, e não como eu gostaria que ele fosse.

7. Comprometo-me a não me julgar, não me culpar, ou não me censurar por ter sentimentos que eu considero ruins, como a tristeza, a raiva, a dor e o sofrimento. Mesmo sem saber ao certo como lidar com isso, comprometo-me a acolher tais sentimentos para diminuir sua intensidade.

8. Comprometo-me a não me cobrar ou culpar-me caso algo que eu (representado pela minha razão ou funções pensamento e sensação de minha consciência) tenha planejado e não tenha realizado a contento, devido a interferência que eu mesmo (representado pelas minhas emoções ou funções sentimento e intuição de minha consciência) tenha proporcionado prejuízos ao andamento das ações propostas pela razão. Comprometo-me a envolver mais os meus sentimentos e as minhas intuições na elaboração dos meus planos.

9. Considero muito rígido de minha parte ruminar sobre os erros ou as omissões do passado, a exemplo daquilo que eu penso sobre o que deveria ter sido feito por mim ou por terceiros. Comprometo-me a não vetar coisas que entendo corretas e que eu gosto de fazer, pelo simples fato de não errar. E quando as coisas não saírem do jeito que planejei ou na forma que eu gostaria que fossem, comprometo-me a aprender a lidar com a frustração e também a aprender a lidar com a inteligência emocional.

10. Sou consciente que vivenciar situações de estresse e de desconforto é um movimento natural que advém da experiência, da sua intencionalidade e intensidade, pelo nível de demanda e de controle serem elevados, mas que faz parte do meu processo de aprendizagem. Mesmo em tais situações, comprometo-me a fazer a energia fluir e a movimentar-se com objetivo de caminhar no sentido de experienciar a minha própria existência. Comprometo-me a entrar em um processo continuado de atualização para lançar, a todo instante, uma melhor versão de eu-mesmo.

11. Considero muito rígido de minha parte estabelecer-me metas que são inalcançáveis, ou imensuráveis, ou insustentáveis na relação comigo, com os outros ou com o mundo. Comprometo-me a estar sempre disposto a revê-las sempre que necessário.

12. Comprometo-me a reservar um tempo para realizar mais atividades que eu gosto de fazer, que me dão prazer e que fazem bem a minha saúde física e mental, ainda que tenham outras tarefas em mente classificadas como mais urgentes, importantes ou, simplesmente mais prioritárias.

13. Comprometo-me a especificar, planejar e realizar algumas experiências para cada uma das seguintes forças de caráter: autocontrole, espiritualidade, perseverança, humildade e prudência, trazendo essas experiências para serem refletidas durante as sessões de terapia. Comprometo-me, principalmente nos momentos mais difíceis, de maior dificuldade, que eu faça uso coletivo (como um time) daquelas forças de caráter que eu uso com maior frequência, que neste instante são: apreciação da beleza, perdão, trabalho em equipe, critério e amor.

14. Considero muito rígido de minha parte eu julgar-me culpado por não conseguir bloquear ou evitar que os complexos (que são as estruturas com certo núcleo arquetípico carregados de forte carga emocional) possam querer intervir sem a permissão do ego e assumir o controle da minha consciência, em certas ocasiões. Entretanto, comprometo-me a aprender e a treinar práticas que ajudam a dissolver a sua carga energética para evitar que tais desejos inoportunos queiram o domínio unilateral da consciência. Caso alguns desses desejos agirem no sentido de sabotar a vida, comprometo-me a escalar outros desejos em favor da vida para fazer a sua oposição. Nestes casos, comprometo-me a acionar, de imediato, a minha rede de apoio (familiares, amigos e profissionais que me assistem) para ajudar nessa oposição, sempre que necessário.

15. Sou consciente de que ao amplificar uma determinada força com alocação de energia psíquica em uma certa direção para determinados contextos, afetos ou emoções, relacionados às funções da consciência (pensamento, sensação, intuição e sentimento), estarei gerando uma outra força de mesma intensidade, porém em direção oposta, que podem gerar conflitos, provocando dor ou sofrimento. Quando conseguir identificar tais situações, comprometo-me a refletir sobre, bem como a levar as experiências vivenciadas para serem trabalhadas dentro do contexto da terapia.

16. Me comprometo a acolher quaisquer sentimentos de dor, pesar, perda e arrependimento que eu venha a ter, como uma demonstração de resiliência, de crescimento pessoal e de amor incondicional de eu-mesmo.

17. Comprometo-me a não negar a existência de vulnerabilidades que habitam dentro de mim. Considero que o simples fato de que eu venha ser ou a me considerar uma pessoa experiente em certas ocasiões e a acreditar que nada de ruim poderá acontecer, já é por si só uma vulnerabilidade que me comprometo a monitorar, a ficar atento e a me cuidar.

18. Comprometo-me a estar de prontidão às situações em que as minhas vulnerabilidades, eventualmente, estejam começando a serem exploradas a ponto de colocar-me em uma posição de risco. Neste caso, a qualquer sinal de risco, comprometo-me a acionar as minhas próprias forças de caráter para atuar na minha defesa, acionando as minhas estratégias pré-definidas, a exemplo de afastar-me daquilo que pode me expor mais ao risco. Comprometo-me acionar, imediatamente, às pessoas que compõe a minha rede de apoio e aos profissionais que me assistem, com intuito de obter ajuda e/ou assistência, como parte da minha estratégia.

19. Estou ciente que ter medo de morrer nada mais é que ter medo de viver, e que é natural sentir esse tipo de medo. Ter coragem não é ter ausência de medo. A coragem carrega consigo o medo, porém com a vida em fluxo ou em movimento. Assim, comprometo-me, mesmo com medo, a valer-me sempre da força da coragem de viver.

20. Sempre que vier a ter pensamentos de ideação suicida, ainda que o meu processo terapêutico esteja interrompido ou concluído, comprometo-me procurar a ajuda profissional e acionar a minha rede de apoio. Em situações em que o profissional que presta assistência entender que estou em risco, concordo que esse sigilo seja quebrado dando ciência de meu estado de saúde para a(s) seguinte(s) pessoa(s) por indicadas por mim.

21. Estou ciente que a felicidade é um sentimento temporário e cíclico, não é permanente, e, normalmente, acontece um pouco antes, durante e após um determinado evento que denominamos de momento de vida. Quanto maior a dificuldade que enfrento durante a minha jornada para atingir a um dado objetivo, maior será o valor da felicidade a ser vivida quando da conquista. Comprometo-me a não fazer o julgamento de que a vida não vale a pena pelas dificuldades que passo no presente, pois, no futuro, serão essas vivências difíceis que definirão a intensidade de felicidade em seu instante de plenitude.

22. Estou ciente de que são as mais fortes e duras emoções que me farão movimentar no caminho da criatividade, inovação, dedicação e do aperfeiçoamento, mas que não significa a perfeição. Comprometo-me a mobilizar algo ligado a consciência que possa escalar tanto as forças de caráter ou virtudes que se destacam em mim, como aquelas que devo treinar ou que não costumo acionar habitualmente.

23. Comprometo-me a olhar para as coisas belas da vida e admitir que sua beleza é inseparável de sua fragilidade, motivo pelo qual aceito o meu papel e a minha responsabilidade de proteger a vida, pois faz parte da minha essência enquanto pessoa e enquanto profissional.

OBS: Tais reflexões não são exaustivas. Seria de se elencar aquelas reflexões em que o cliente tomou consciência no decorrer do processo terapêutico.

por Alberto Erich Okada

Terapeuta Junguiano

www.psicologiajunguiana.com.br

Alberto Erich Okada

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Nelson Ned de Paula e SiIva

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